Livro de César Ramos é destaque no Jornal O Globo

César Ramos comenta a adoção das regras de contabilidade de hedge (Hedge Accounting) pela Petrobras em entrevista concedida ao Jornal O Globo (10 de Agosto de 2013).

Leia a seguir a matéria completa publicada no Jornal O Globo do sábado 10/08/2013 e na revista Isto é Dinheiro no dia 12/08/2013.

Lucro turbinado

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O Globo 10/08/2013

Petrobras lucra R$ 6,2 bi no 2º trimestre, beneficiada por mudança contábil e venda de ativos

Por Ramona Ordoñez, Henrique Gomes Batista, Daniel Haidar e Bruno Villas Bôas / O Globo – 10/08/2013

A mudança contábil adotada pela Petrobras – para neutralizar a desvalorização do real frente ao dólar em sua dívida líquida – e a venda de ativos no exterior evitaram que a companhia tivesse um desempenho fraco no segundo trimestre. A estatal lucrou R$ 6,2 bilhões, o que representa queda de 19% em comparação com o primeiro trimestre, mas, ainda assim, muito superior às expectativas do mercado. O resultado também inverte, no período, o prejuízo que a companhia havia registrado no segundo trimestre do ano passado, de R$ 1,3 bilhão, o primeiro desde 1999. No acumulado do primeiro semestre, o lucro líquido acumulado ficou em R$ 13,8 bilhões, 77% superior aos R$ 7,8 bilhões em igual período do ano passado.

A própria Petrobras reconheceu, na divulgação dos resultados, que a mudança contábil adotada a partir de meados de maio “evitou a redução de R$ 7,982 bilhões no resultado financeiro”, sem especificar, contudo, qual seria o real impacto da mudança no lucro líquido do trimestre. Já a venda de ativos na África contribuiu para ampliar os ganhos da companhia no período em R$ 1,906 bilhão. Analistas de mercado estimavam lucro entre R$ 3,9 bilhões e R$ 5,6 bilhões no segundo trimestre. De acordo com a Bloomberg, o desempenho da Petrobras ficou 23% acima da média das projeções de analistas.

Segundo Gustavo Gattass, analista da petróleo do BTG Pactual, nos próximos dias, o mercado deve estudar os números da companhia para entender exatamente o impacto da mudança contábil.

– A pergunta real é o que teria sido o resultado sem a contabilidade de hedge . E esse vai ser o trabalho do mercado: entender (o resultado) nos próximos dias, o que pode não ser fácil. Mas, sem a mudança e nem a venda de ativos, poderia ter prejuízo – disse.

Na primeira leitura dos resultados, alguns analistas avaliam que, sem estes eventos, a companhia poderia ter encerrado o segundo trimestre no vermelho, considerando o resultado antes do pagamento de impostos. Para o consultor Cesar Ramos, especialista em contabilidade de hedge e autor do livro “Derivativos, riscos e estratégias de hedge “, sem a alteração, a empresa teria prejuízo antes de impostos de R$ 36 milhões. Com a mudança, teve lucro antes de impostos de R$ 7,946 bilhões.

PRODUÇÃO ESTÁVEL NO TRIMESTRE

A contabilidade de hedge é uma prática que pode ser adotada por empresas que possuem receitas e dívidas em dólar, de acordo com o professor Fernando Galdi, da Fucape. Na prática, a empresa vinculou 70% da dívida líquida em dólar (R$ 8 bilhões) a receitas em exportações, o que permite só contabilizar essa dívida nos resultados “na medida em que as exportações forem realizadas”, explicou Graça Foster no relatório divulgado ao mercado. Isso fez com que cerca de R$ 8 bilhões em perdas cambiais fossem contabilizados negativamente no patrimônio líquido e não no resultado líquido do segundo trimestre.

– Muitas empresas não adotavam essa contabilidade de hedge porque é custoso e relativamente complexo – disse Galdi.

Os números divulgados mostram que o endividamento total cresceu 27% no primeiro semestre e somou R$ 249,041 bilhões. De acordo com a Petrobras, o dado reflete o aumento do endividamento de longo prazo e a depreciação cambial de 8,4%.

A estatal informou, ainda, que a sua produção de petróleo ficou praticamente estável no segundo trimestre, com um total de 2,555 milhões de barris/dia, praticamente o mesmo valor (2,552 milhões de barris/dia) do primeiro trimestre do ano. No entanto, no acumulado do primeiro semestre, o volume de 2,553 milhões de barris/dia, representou uma queda na produção de 3% sobre o mesmo período de 2012, quando a média havia sido de 2,628 milhões de barris/dia.

No segundo trimestre do ano a área de Abastecimento, responsável pela compra e venda de combustíveis, teve um prejuízo de R$ 3,7 bilhões, uma redução de 42% em relação a igual período do ano passado, quando foi de R$ 6,5 bilhões. No acumulado do primeiro semestre do ano, a área de Abastecimento teve prejuízo total de R$ 10,3 bilhões, 40% inferior aos R$ 17 bilhões do primeiro semestre do ano passado. Esta atividade é muito impactada pelo dólar e pela defasagem dos preços da gasolina e do diesel cobrados lá fora e aqui, uma vez que a empresa continua importando muito petróleo e derivados para fazer frente à demanda interna. E esse impacto tende a crescer, uma vez que, segundo o as informações da empresa, há um atraso na contabilização do impacto:

“Em função do período de permanência dos produtos nos estoques, de 60 dias em média, o comportamento das cotações internacionais do petróleo e derivados, bem como do câmbio, sobre as importações e as participações governamentais, não influencia integralmente o custo das vendas do período, vindo a ocorrer por completo apenas no período subsequente”, afirmou a empresa.

A Petrobras informou que, no primeiro semestre, importou uma média diária de 783 mil barris de petróleo e derivados, volume 5% maior que os 744 mil barris por dia que havia sido registrado no primeiro semestre de 2012. Já a exportação de petróleo e derivados caiu de 634 mil barris diários, no primeiro semestre de 2012, para 383 mil barris diários nos seis primeiros meses deste ano – uma diferença de 40% -, motivada pela queda na produção e pela necessidade de atender o aumento da demanda interna.

Termelétricas puxam consumo

A empresa informou que, nos primeiros seis meses do ano, o volume de vendas no mercado interno foi 9% superior ao registrado no primeiro semestre de 2012. Segundo a Petrobras, o destaque foi a alta de 45% na venda de óleo combustível e de 26% de gás natural, nos dois casos, para suprir a demanda das termelétricas, que estão em pleno funcionamento por causa do menor nível dos reservatórios das hidrelétricas. A venda de gasolina no período apresentou alta de 9% e a de diesel subiu 7%.

Em Nova York, os recibos de ações da Petrobras fecharam em alta de 2,58%, a US$ 17,08.

Fonte: O Globo – 10/08/2013 / Isto é dinheiro – 12/08/2013

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